Como a Licença 1.0a afeta jogos antigos?

foto da sede wizards of the coast, artigo sobre o que restou da licença 1.0a a OGL

Espólios da Guerra

Muito provavelmente você já deve ter familiaridade com os acontecimentos do último mês no mundo do D&D, mais especificamente sobre a Wizards of the Coast e sua tentativa falha (até o momento) de tomar o RPG de assalto.

Veja que eu disse que a tentativa foi falha, como foi informado no artigo XXX, mas o atenuante dessa falha é “até o momento”.

Sobre isso talvez venhamos a conversar no futuro em outro artigo, pois muita gente não acredita que a mudança de atitude da WotC seja generosidade, mas sim uma tentativa de conter danos na confiança e, mais importante, em suas finanças.

O D&D 5ª edição está salvo sim graças ao SRD dessa versão ter sido publicado como Creative Commons, uma licença que não está nas mãos da WotC e a partir desse momento se torna ainda mais ampla e interessante que a OGL 1.0a.

Embora a WotC tenha dito que deixará a OGL 1.0a intocada, a quebra de confiança ainda permanece.

Mas se o SRD 5.1 está como Creative Commons, por qual motivo deveríamos nos preocupar com a OGL 1.0a, talvez você esteja se perguntando e aqui precisamos passear um pouco na história, tanto para o passado quanto para o futuro.

A Terceira Edição

A OGL surgiu junto com a 3ª edição do Dungeons & Dragons, a primeira lançada com a marca sob propriedade dos Magos da Costa.

Essa licença deu um fôlego renovado ao D&D e abriu um caminho extremamente produtivo para a comunidade do RPG.

Anos depois, ela tentou lançar a GSL, uma nova licença para seu D&D 4ª edição que acabou tendo um desempenho ruim.

Só que entre o lançamento da 3ª edição e da 5ª edição, temos um espaço de quase 14 anos, no qual muitas editoras, empresas e criadores, utilizaram essa licença para criar seus negócios, sistemas e conteúdos. 

É importante entender aqui que o SRD da 3ª edição também foi publicado sob a OGL.

Por esse motivo, muitos produtos surgiram desde essa época que em alguns casos não tinham nada a ver com D&D, exceto pelo sistema de regras estruturadas, ou tinham na verdade muito a ver com D&D, mas de outras edições.

A Segunda Edição

arte classida do AD&D segunda edição do maior RPG de Mesa do Mundo Dungeons and Dragons

A 2ª edição do D&D é chamada de Advanced Dungeons & Dragons e ela faz parte de uma evolução de sistema que se encaminhava desde os primórdios do D&D.

Com novas regras, melhorias mecânicas e revisões extremamente importantes.

Se você não conhece AD&D, confie em mim quando digo que foi um jogo muito diferente do que tivemos na terceira, quarta e até mesmo na quinta edição.

Dessa forma, com o lançamento da 3ª, muitos jogadores pelo mundo tiveram a interrupção de novidades e melhorias para o sistema que gostavam de jogar.

RPG não é como um computador que precisa ser trocado de tempos em tempos pois deixa de funcionar, por esse motivo, muitos desses jogadores continuaram (e continuam até hoje) a utilizar esses sistemas.

Agora pense por um momento, se a empresa detentora dos direitos não publica mais material para o mesmo, como novos materiais podem ser publicados?

É aí que entra em cena o Old School Renaissance (OSR) que em Português seria algo como “Renascimento da Velha Guarda”, se referindo a um renascimento do RPG como jogado ainda nas épocas de AD&D (que veio antes do AD&D 2nd).

Com a publicação da OGL, foi possível que retro-clones surgissem, como o OSRIC (Old School Reference and Index Compilation), utilizando essa mesma licença para recriar o jogo abandonado, sem correr o risco de receber algum processo.

Graças a isso é possível dizer que a segunda edição jamais deixou de existir.

A Armadilha

armadilha em uma dungeon de RPG de Mesa

Como eu disse anteriormente, diferente de um computador ou videogame, ou mesmo de um carro que se torna gasto e precisa ser trocado.

Um sistema de RPG não passa por esse processo, com ainda hoje mesas espalhadas pelo mundo jogando essas versões antigas.

Não pense que isso se trata apenas de saudosismo, ainda hoje são lançados suplementos e aventuras para esses sistemas antigos como D&D 3.5, AD&D 2nd e até mesmo para AD&D.

O amparo legal que permite que isso ainda aconteça é exatamente a OGL 1.0a e, como vocês devem ter percebido, apenas graças à existência da OGL todo um segmento de RPG foi possível de ser criado e se mantém até os dias de hoje.

Pesquise sobre Sword & Wizardry, Dark Dungeons, Old School Essentials, entre muitos outros sistemas bem sucedidos baseados nessa premissa de velha guarda, todos sendo tendo sua existência assegurada pela OGL 1.0a.

Logo, embora o SRD 5.1 seja um porto totalmente seguro atualmente, versões anteriores não estão nesse bom momento.

Todo material baseado na OGL ainda está em risco pois a palavra da WotC perdeu bastante de seu valor e isso faz com que até que exista uma ação real, o perigo ainda esteja rondando a mente de criadores focados nesses sistemas.

Alguns criadores tem alegado que a WotC pretende dar tratamento similar (Creative Commons)  às edições antigas, mas até que isso aconteça, o risco existe.

Todo movimento que a WotC fez foi apenas para aplacar a fúria da comunidade que certamente resultou em investidores e acionistas descontentes.

Parte dessa fúria foi aplacada e, não seria incorreto dizer, provavelmente a grande maioria dessa comunidade, em especial sua parcela mais vocal.

Infelizmente, nada disso impede que a WotC resolva tentar algum movimento terrível e suspeito novamente nos próximos meses.

Ou mesmo junto ao lançamento do One D&D, tentando trancar de alguma forma seu próprio sistema para que apenas eles possam explorá-lo.

O que fazer?

A resposta para isso pode estar surgindo exatamente da mesma forma como aconteceu com o OSR no passado.

Assim como na História o Renascimento foi sucedido pelo Iluminismo, talvez um “Iluminismo da Velha Guarda” possa surgir dessa vez, utilizando o SRD da 5.1.

O primeiro verdadeiramente livre, e através da Creative Commons criar uma nova base para uma a segurança dos retro-clones.

Mas até que algo assim aconteça, embora os que dependem do SRD 5.1 estejam felizes e seguros, os que ainda dependem puramente da OGL 1.0a não tem motivo para baixar a guarda, afinal, os Magos da Costa podem mais uma vez tentar controlar esse Dragão.

Artigo escrito por: Arddhu

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